Reflexão e ação
Iniciamos nosso diálogo falando do “jogo de culpados” na escola. Como “virar este jogo” e construir novos relacionamentos entre professores e seus jovens estudantes? Em sua percepção, faz sentido esta afirmação de que professores e jovens se culpam mutuamente e os dois lados parecem não saber muito bem para que serve a escola nos dias de hoje? Que tal promover uma conversa na escola sobre a questão dos sentidos do estar na escola para professores e estudantes? E por que não elaborar estratégias para promover o reconhecimento mútuo? Por exemplo, você pode elaborar mapas das identidades culturais juvenis do bairro; redigir cartas aos jovens estudantes para que eles se revelem além de suas identidades uniformizadas de alunos; promover jogos de apresentação na sala de aula, dentre outras atividades. E em quais outras iniciativas podemos pensar para ampliar o campo de conhecimento sobre quem são eles e elas que estudam e vivem a escola? Buscar perceber como os jovens estudantes constroem o seu modo próprio de ser jovem é um passo para compreender suas experiências, necessidades e expectativas.
Reflexão
I – Página 16
Essa concepção de uma sociedade que reforça a
ideia de felicidade individual como justificativa e legitimadora da sua própria
organização acaba por contribuir para que as relações sociais se baseiem em
interesses estanques e por uma visão fragmentada de todo o processo. O processo
educacional não pode ser entendido como a simples somatória de duas partes,
quem ensina e quem aprende, mas como um processo de ensino e aprendizagem que
influencia tanto os professores como os alunos.
É
importante que as escolas desenvolvam projetos que estimulem maior interação
entre estas duas partes e, que todo o corpo escolar esteja ciente que a
educação deve ser entendida como uma mediadora de relações e interesses sociais
que deve ter sua estrutura repensada.
Parte-se do pressuposto que o professor é o
verdadeiro detentor do conhecimento e os alunos são aqueles que devem assimilar
o conteúdo passado por eles, sem a possibilidade de uma interlocução entre os
agentes. Os alunos poderiam participar dos encontros de planejamento e ter a
possibilidade de construir as diretrizes junto com todo o pessoal que compõe a
estrutura escolar. Cada caso pode ter uma especificidade mas dar efetiva voz
aos jovens significa dar efetivos direitos práticos para que eles possam
participar da formulação do projeto pedagógico da sua escola, participar
efetivamente da escolha dos caminhos que ele mesmo irá traçar.
Uma
simples reunião de pais e alunos pode ajudar a diminuir um pouco o abismo entre
essas categorias. O poder do esporte e da música também podem ser usados, são
ferramentas fundamentais e se prestam muito bem como linguagens que transcendem
as diferenças. As festas locais poderiam servir como espaço de convivências
entre todo o corpo escolar, compreendendo os alunos, seus pais, os professores
e colaboradores.
Fundamental
para melhorar a relação é a tentativa de diminuir o recorte de classes que
existe na realidade escolar. Existe uma realidade social na maioria das escolas
públicas de Niterói que tem seus alunos pertencentes à um estrato social
diferente do estrato do professorado. Essa divisão estrutural deve ser
trabalhada pois é fundamental para a compreensão por exemplo das perspectivas
do aluno depois da sua formatura. Hoje os projetos desenvolvidos para os alunos
focam no ensino técnico e na possível absorção pelo mercado de trabalho dessa
mão de obra, em detrimento de um ensino reflexivo voltado para entrada nas
faculdades.
É
preciso conhecer as perspectivas e a realidade sociocultural dos alunos,
entretanto não podemos aceitar as desigualdades como fatalidade do destino. É
extremamente importante que se apresente alternativas para o fim social da
juventude destes através da entrada precoce no mundo do trabalho numa condição
quase sempre atrelada à formação técnica e ao subemprego. O ensino técnico é, e
sempre foi, extremamente importante mas deve se manter como uma alternativa e
não uma imposição que ajuda a aprofundar a desigualdade estrutural da
sociedade. Para além das subjetividades culturais, das juventudes, existe uma realidade
prática que é socialmente produzida e independe das escolhas individuais de
cada jovem.
Reflexão e ação
As pesquisas apontam que uma das coisas que os jovens mais fazem na internet é conversar. E que tal propor um diálogo com os estudantes na escola sobre as conversas na internet? Será que o que se conversa pela internet tem “menos valor ou importância do que aquilo que se diz presencialmente? O que os jovens de sua escola diriam? Vamos tentar este papo como um exercício de aproximação com os estudantes? Professor, professora, sua escola está também aberta para o diálogo com as culturas juvenis que envolvem os jovens fora da escola? Que tal promover um diálogo sobre a questão, após assistir ao documentário O desafio do passinho: uma forma de expressão corporal e sociocultural? Ele está disponível no site: <http://www.emdialogo.uff.br/content/o-desafio-do-passinho-uma-formade-expressao-corporal-e-sociocultural>.
Reflexão
II – Página 29
Fundamental que se procure entender o
jovem em toda a sua complexidade, ainda mais se as categorias professor e aluno
não pertencem à mesma classe ou estrato social. Os mundos costumam ser bastante
diferentes e a desigualdade de direitos pode muito bem ser observada em relação
ao preenchimento das vagas no magistério. É pequeno o número de professores
provenientes de escolas públicas ou mesmo moradores das chamadas comunidades
carentes, principal público das escolas estaduais, ao menos da realidade
metropolitana da cidade de Niterói. A troca pode ser construtiva e ajudar os
dois a aprender e a ensinar. As manifestações culturais de cada realidade devem
ser valorizadas e compreendidas, a escola é um lugar ideal para que o
preconceito atrelado ao movimento cultural dos guetos emancipe-se e ganhe
notoriedade e legitimidade social.
Mais do que isso, é possível que a escola se
constitua como arena de difusão e troca cultural. O morador da comunidade deve
ter acesso às mais variadas formas de arte e principalmente deve conhecer o
referencial simbólico das classes sociais que o rodeiam para que possa, por ele
mesmo, desenvolver a capacidade de refletir e se posicionar de forma crítica no
campo das relações sociais que irão se apresentar à ele nas próximas fases de
sua vida.
O
projeto da “Batalha do Passinho” é muito interessante e mostra como a escola
pode despertar o interesse dos jovens a partir da escolha de temas que fazem
parte das suas realidades. Os alunos
passam a ter mais vontade de aprender e a cultura musical é instrumento
fundamental para isso. Ao mesmo tempo, os professores também deveriam trazer
suas representações culturais para dentro da escola, mostrar formas
alternativas de construção de mundo para além das características locais, do
imediatismo do trabalho e do recorte classista.
Prof. Daniel Hofmann da Silva
Jovens,
culturas, identidades e tecnologias
Podemos dizer que a relação dos jovens com o mundo do trabalho não
se estabelece de maneira igualitária e nem se resume à dimensão da necessidade.
Para alguns jovens, o período da juventude é um tempo de preparação e as
primeiras experiências com o mundo do trabalho se dão por meio de estágios e
cursos de formação profissional, podendo a inserção no mercado de trabalho esperar
mais um pouco. Por outro lado, para muitos jovens, a entrada imediata e precoce
no trabalho é a única alternativa. Podemos dizer que os jovens se inserem no
mundo do trabalho por caminhos e motivos diversos, dando a ele significados
distintos.
Assim, além de ser fonte de sobrevivência e geração de renda, o
trabalho é também espaço de socialização e sociabilidade, de construção de
valores e construção de identidades. Ele adquire centralidade no imaginário
juvenil seja como um valor moral, como estratégia de independência pessoal,
como autorrealização para os mais escolarizados ou como um direito para outros.
Significa dizer que temos de estar atentos para os múltiplos sentidos que o
trabalho pode ter para os jovens.
Mas se por um lado podemos considerar o trabalho como realizador da
vida humana, essencial para o processo de humanização, por outro a sociedade
capitalista o transforma em trabalho assalariado, alienado e produtor de
ilusões. “O que era uma finalidade central do ser social converte-se em meio de
subsistência” (ANTUNES, 2004, p. 8) Transformado em força de trabalho,
conceito-chave em Marx, torna-se uma mercadoria, cuja finalidade é criar novas
mercadorias e gerar capital.
Apesar disso, para Miguel Arroyo (1987), não se trata de nos
prendermos à denúncia do caráter alienante e negativo do trabalho nas
sociedades capitalistas. Mais rico seria olhar para as dimensões formativas do
trabalho. Homens e mulheres, a partir de suas experiências de trabalho produzem
culturas, saberes e identidades que muitas vezes se opõem à desumanização do
trabalho. Na experiência da ambiguidade, entre formador e deformador, estaria a
dimensão educativa do trabalho.
Diante do exposto, cabe refletir sobre em que medida há diálogo das
escolas com as experiências de seus jovens estudantes que trabalham. Podemos
criar estratégias ou aprofundar as que já existem, de forma a proporcionar uma
boa e equilibrada relação entre escola e trabalho.
Ser jovem não é tanto um destino, mas a escolha de transformar e
dirigir uma existência. E nesta perspectiva os jovens podem ser considerados
como a ponta de um iceberg que, se compreendida, possivelmente explicará as
linhas de força que alicerçarão as sociedades no futuro. A “juventude nunca
acaba” e isso porque nela se está jogando e afirmando os traços profundos da
personalidade que nos acompanharão por toda uma vida. Daí a importância da
discussão sobre as identidades.
Hoje, os jovens possuem um campo maior de autonomia frente às
instituições do denominado “mundo adulto” para construir seus próprios acervos
e identidades culturais. Há uma rua de mão dupla entre aquilo que os jovens
herdam e a capacidade de cada um construir seus próprios repertórios culturais.
Partimos da óbvia constatação de que esses jovens com os quais nos
relacionamos diariamente em nossas escolas têm coisas a aprender, contudo,
apostamos em nossa capacidade de aprender com eles a experiência de viver de
forma inovadora, criativa e solidária o tempo de juventude. Os jovens sujeitos
do Ensino Médio nos trazem cotidianamente desafios para o aprimoramento de
nosso ofício de educar. Entre esses desafios, encontra-se a difícil tarefa de
compreensão dos sentidos os quais os jovens elaboram no agir coletivo, em seus
grupos de estilo e identidades culturais e territoriais que, em grande medida,
nos são apenas “estranhos” (no sentido de estrangeiros) e diferem de muitas de
nossas concepções (adultas) de educação (escolar ou não), de autoridade, de
respeito de sociabilidade “adequada” e produção de valores e conhecimentos.
A escola coloca-se, então, diante de um dilema, ao ser interpelada
pela pluralidade das manifestações culturais juvenis. Há, assim, escolhas
institucionais a serem feitas: as referências extraescolares podem ser
interpretadas como ruídos e interferências negativas para o trabalho pedagógico
- caso a escola se feche - ou significar oportunidades para a criação de
espaços de mediação cultural entre os diferentes mundos vividos pelos jovens
estudantes. Estar atento, portanto, para
os grupos de identidade com os quais eles se identificam ou dos quais fazem
parte ativamente torna-se condição para o entendimento dos sentidos dos modos
de agir dos jovens estudantes e das jovens estudantes.
Prof.: João Paulo Nascentes
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