segunda-feira, 1 de junho de 2015

Abrindo Espaços Humanitários (AEH) Reflexão sobre a formação e experiência.

   

No dia 21 e 22/5/2015, ocorreu a capacitação para professores oferecido pela SEEDUC/RJ em parceria com o Comitê Internacional da Cruz Vermelha (CICV). Eu e Kassia, a professora de português da escola, nos disponibilizamos a participar, e, posteriormente, multiplicar. O público alvo são os estudantes do Ensino Médio da rede pública. O lema norteador desse programa é a promoção do diálogo entre estudantes e professores sobre princípios humanitários e temas relacionados à violência.  No Rio de Janeiro, tem como principal objetivo ajudar a reduzir as consequências da violência armada. 
     A formação teve duração total de 16h se dividindo em quatro grandes blocos entre os dois dias. No primeiro, houveram as apresentações de toda a equipe e a dos professores, a explicação do porque estávamos ali, quais eram os objetivos, e  as principais definições do que seria abordado, assim como a visualização de imagens diversas. 
    O levantamento de temas polêmicos, como vocês podem imaginar, abriu o debate entre os professores, a maioria deles sentindo-se impotentes quanto a grande carência e violência observada no dia a dia da escola, na dificuldade do trabalho com os jovens e adolescentes, que vivem em áreas consideradas de risco por toda a sociedade, sendo que a grande diferença é que eles não só veem o noticiário, mas vivenciam a violência em diferentes níveis todos os dias... 
    Voltando para o ambiente da formação, além de estar lotado de professores numa sala relativamente pequena para a disposição sugerida, algumas falas "tiveram que ser cortadas", principalmente quando os formadores achavam que o tema abordado não tinha relevância, como o fato da indignação dos professores serem tão desvalorizados e apanharem da própria "força policial nacional, que deveriam ser pagos para nos trazer segurança, e não o contrário, como temos observado e sentido na própria pele! Essa restrição me incomodou muito, e, o argumento para tal, era que deveríamos naquele momento nos ater aos alunos... E não seríamos nós, professores, que deveríamos nos disponibilizar para tratar da temática sobre violência e atos humanitários com os alunos? Como falar de dignidade e cidadania, precauções contra a violência, se nós mesmos não sentimos ter nossos direitos resguardados?
    Respirei e continuei lá, observando e aberta a novas possibilidades. A dinâmica proposta após o almoço envolvia o corpo e interação entre os participantes, mas não saiu exatamente como planejado devido o pouco espaço e "correria" para dar conta do script". Ganhamos todos um material de texto com possibilidades e propostas de discussão para serem realizadas com os alunos, e naquele momento, fomos divididos em três grandes grupos para vivenciarmos nós mesmos duas das atividades. O deslocamento proposto foi interessante pois podemos, ao menos tentar trocar diferentes pontos de vista sobre o assunto e falarmos mais livremente de nossas experiências, não só em sala, mas de projetos desenvolvidos nas diferentes unidades escolares. O ruído do falatório geral atrapalhou, mas não desistimos, afinal, estamos acostumados a superar grandes desafios!
    No segundo dia, ainda nos sentindo cansadas da jornada do dia anterior, tivemos a surpresa de vivenciarmos um dia mais tranquilo, com muito menos pessoas num mesmo ambiente, e consequentemente, mais acolhedor. Trocamos muitas experiências, fomos estimulados a falar, a trocar, e com isso, podemos ser mais receptivos a  proposta do programa. E como faz diferença ser escutado também, como devemos nos lembrar sempre disso no momento que estamos com nossos alunos. O diálogo deve ser dialógico, como falava muito bem o educador Paulo Freire. A voz que dita, unilateral,  leva a opressão, a ditadura, tendo como consequência a maior das violências...
    Realizamos novamente em grupo outras duas ou três atividades do material de texto que recebemos, uma delas envolvendo uma música, e  nos foram mostradas outras possibilidades de abordarmos a temática sobre violência com os alunos, tendo certos cuidados que realmente não havíamos pensado. 
    Levamos daquele dia um aprendizado, talvez o maior de todos, que cada dia é único, mesmo quando estamos com as mesmas pessoas, não devemos subestimá-las e nos fecharmos como ostras, podemos dar novas chances a nós mesmos, GUERREIROS DA EDUCAÇÃO!!!!
Prof. Raquel da Camara (Artes)

Um comentário:

  1. Excelente o texto.Ele nos remete a vivencia e a emoção da experiência. Afinal o objetivo é este. O leitor deve se prender racional e emocionalmente ao texto. Interessante a denuncia que a Raquel formulou sobre como a policia trata os professores. Depois querem ajuda deles. Infelizmente a ditadura ainda está dentro de nós. Mas acredito na força motora da vocação dos verdadeiros mestres em tecer um novo mundo de liberdade.

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